“O verdadeiro custo de uma má contratação não está na indemnização, mas no tempo, energia e confiança perdidos”, afirma Philipp Reisinger. O fundador da FIND HR foi entrevistado por Bruno Perin para o Empreendedor e explica porque é que CEOs de alto desempenho recorrem hoje à inteligência artificial para nunca mais falharem numa escolha crítica.
Philipp Reisinger conhece por dentro a engrenagem que decide o futuro de empresas de alto crescimento: a escolha das suas lideranças. Fundador e CEO da FIND HR, empresa especializada em executive search que já colocou centenas de executivos em startups e grandes corporações, construiu ao longo de mais de uma década uma visão singular sobre o que separa contratações que aceleram negócios daquelas que os destroem.
Licenciado pelo MIT, posiciona-se na vanguarda de uma mudança silenciosa: a forma como CEOs de elevado desempenho utilizam inteligência artificial para identificar líderes transformacionais. “Muitos recrutam para manter o status quo, quando o que precisam é de alguém capaz de romper com padrões e desbravar novos caminhos”, resume.
O arquiteto ou o administrador?
Para Reisinger, o erro mais comum não está na falta de currículos brilhantes, mas na leitura errada do futuro. “O sucesso passado não garante nada. Quando o cargo exige um arquiteto do futuro e escolhem um administrador do passado, a estratégia fica comprometida.”
Segundo explica, o administrador otimiza o presente, enquanto o arquiteto constrói o que ainda não existe. Esta diferença, aparentemente subtil, pode significar milhões em oportunidades desperdiçadas para empresas em expansão ou em transformação. “O futuro não se constrói apenas com base no que alguém já fez, mas no que é capaz de conceber e decidir a seguir”, acrescenta.
O custo invisível
Colocar a pessoa errada no topo de uma organização tem consequências devastadoras. “Não se resume à indemnização”, alerta. “O verdadeiro custo está no atraso estratégico, na desmotivação da equipa e nas oportunidades que se evaporam.”
Um C-level desajustado compromete o crescimento, debilita a cultura organizacional e coloca em risco o posicionamento competitivo. O impacto pode chegar a 10 a 20 vezes o salário anual do cargo. “Mais do que recursos financeiros, perde-se tempo, energia e confiança. Por isso, recrutar alguém alinhado com os objetivos futuros não é opcional — é sobrevivência empresarial.”
A revolução dos dados
Se a intuição foi durante décadas o critério decisivo, hoje a inteligência artificial muda o jogo. “Não basta a ferramenta. O diferencial está em transformar dados em decisões superiores.”
Na FIND HR, o processo cruza dados de desempenho, padrões comportamentais e indicadores de mercado, recorrendo a um framework proprietário para prever o verdadeiro impacto de cada contratação. “A IA não substitui o discernimento humano, potencia-o. Revela padrões que a intuição não alcança e dá-nos precisão cirúrgica para identificar líderes alinhados com o presente e preparados para o futuro.”
Uma revolução silenciosa
Empresas como Google, Intel e Adobe já compreenderam que a diferença entre usar tecnologia e ser transformado por ela está na qualidade das pessoas que conduzem essa mudança. Para Reisinger, muitas organizações continuam a recrutar como se estivessem em 2010, confiando em networking e currículos apelativos. “Os líderes mais atentos estão a usar dados e IA para tornar cada contratação C-level numa vantagem competitiva sustentável.”
A pergunta que deixa aos leitores é simples e inquietante: quantos milhões estão dispostos a desperdiçar por contratar a pessoa errada?