Quando a Competição Corrói o Espírito de Equipa

A competição nas organizações pode estimular o desempenho, mas também corroer a coesão e reduzir a produtividade das equipas.

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A competição é uma das ideias mais romantizadas do mundo empresarial. Alimenta o mito do mérito, legitima hierarquias e promete produtividade. Mas nas organizações, tal como na biologia, a competição sem cooperação conduz à extinção do ecossistema que a sustenta.

As empresas habituaram-se a medir desempenho em métricas individuais ‑ vendas, quotas, produtividade por hora, prémios anuais ‑ como se cada trabalhador fosse uma célula isolada num corpo sem nervos. O resultado é previsível: equipas que competem entre si, colegas que se tornam rivais e líderes que confundem pressão com liderança. Num primeiro momento, o modelo parece funcionar. Os mais ambiciosos reagem com energia, o ritmo acelera, os resultados melhoram. Mas o entusiasmo é curto. À medida que a comparação se torna permanente, instala-se o stress organizacional e a ansiedade de desempenho.

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O problema não é competir, mas antes, competir sem sentido coletivo. O modelo da produtividade sistémica, amplamente estudado na gestão contemporânea, mostra que o desempenho sustentável depende da coesão e da interdependência. Quando o foco se desloca para o resultado individual, o capital social interno degrada-se: partilha de informação reduzida, bloqueios de comunicação, perda de confiança. O talento isola-se, e a inteligência coletiva, que deveria ser o motor da inovação, transforma-se num campo de forças em colisão.

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Há trabalhadores que prosperam neste ambiente, sobretudo os de alta autoeficácia, que veem na competição um estímulo. Mas há muitos outros que reagem de forma inversa: retraem-se, sentem-se incapazes de acompanhar o ritmo e entram numa espiral de desmotivação e exaustão emocional. O modelo JD-R (Job Demands-Resources) descreve bem este mecanismo: quando as exigências aumentam sem recursos proporcionais, o sistema colapsa. A produtividade deixa de crescer e o esgotamento instala-se, invisível no início, mas devastador a longo prazo.

O efeito mais pernicioso da competição excessiva é o rompimento do vínculo psicológico com a organização. Deixa de haver “nós” e passa a haver “eu”. Cada colaborador protege o seu território, oculta informação, evita erros ‑ porque o erro, num ambiente competitivo, é punição social. As equipas tornam-se tecnicamente competentes, mas emocionalmente fragmentadas. A inovação desaparece, não por falta de ideias, mas por falta de confiança.

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Paradoxalmente, a competição também pode ser motor de excelência, desde que seja transparente, justa e equilibrada por objetivos comuns. As melhores equipas são as que cultivam uma cultura de “coopetição“, onde o desempenho individual é reconhecido, mas o sucesso coletivo é celebrado. O mérito não é uma corrida, é um ecossistema.

No fim, a produtividade não se mede apenas pelo que cada um faz, mas pelo que todos conseguem fazer juntos. E é precisamente aí que a competição, quando mal orientada, revela a sua verdadeira fragilidade: transforma energia em conflito e mérito em solidão.

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