Cristian Cavalheiro, ex-VP de Tecnologia e Inovação da Getnet, partilha perspetivas sobre como a abertura para a aprendizagem contínua e a definição precisa de objetivos se tornaram competências decisivas para os CEOs na era da inteligência artificial.
Ao longo da sua carreira, Cristian Cavalheiro liderou a evolução tecnológica de uma das maiores adquirentes do Brasil. Na Getnet, foi responsável por processar milhões de transações diárias e conduziu a transformação digital de uma operação que movimenta milhares de milhões. Enquanto VP de Tecnologia e Inovação, assumiu a liderança das operações de infraestrutura e desempenhou um papel determinante na fundação da Pagonext, empresa criada dentro do grupo, onde atuou como COO. A sua experiência vai da modernização de infraestruturas críticas ao desenvolvimento de soluções inovadoras no competitivo mercado de pagamentos.
Nesta entrevista de Bruno Perin, Cristian explica porque é que a humildade e a disposição para aprender se tornaram a arma estratégica mais poderosa da liderança contemporânea.

Como escolher o alvo certo no meio do caos
Perguntado sobre o que leva um CEO a escolher o alvo certo entre tantas possibilidades estratégicas, Cristian foi direto: “É uma combinação entre intuição, domínio de assuntos e conhecimento dos clientes. Quando existe uma intuição forte assente na expertise, isso dá um pressentimento do caminho a seguir. Mas é preciso ter profundidade no assunto e ter contacto direto com os clientes – sentir as suas dores e anseios.”
Para ele, a fórmula é clara: intuição alicerçada, domínio profundo e proximidade real com o cliente. No entanto, adverte que muitos líderes falham precisamente por não estarem disponíveis para questionar, aprender e ouvir, comprometendo assim a tríade essencial da liderança estratégica.

A abertura para aprender como vantagem competitiva
Na era da inteligência artificial, a disposição para aprender deixou de ser opcional e passou a ser crítica. Cristian sublinha que “A disposição para aprender é o fator mais relevante da liderança atualmente. Grande parte dos CEOs tem a ideia de que, por terem chegado lá, dominam muitos assuntos e são super-heróis. Neste momento em que a IA potencia basicamente toda a gente, os CEOs estão a começar a ficar para trás – principalmente os que resistem a novas aprendizagens.”
O paradoxo, explica, é que quase todos os CEOs afirmam utilizar a Inteligência Artificial, mas poucos compreendem em profundidade o seu potencial. “A resistência em admitir ‘eu ainda percebo pouco de IA e devia aprender mais’ impede que testem ferramentas, explorem combinações e alcancem o verdadeiro potencial”, acrescenta.

O alvo certo com as pessoas certas
Para além de definir o alvo estratégico, Cristian Cavalheiro reforça a importância da escolha das equipas:
“Não é apenas uma questão do alvo. É escolher bem as pessoas, porque elas vão ajudar a corrigir o caminho e a executar bem. E ter disciplina na execução – um método seguro para seguir o que foi pré-determinado com continuidade e profundidade.”
A advertência é clara: um líder pode ter as pessoas certas, mas, se definir alvos errados, o resultado será trabalho medíocre. O contrário também é verdade — o alvo perfeito com as pessoas erradas leva inevitavelmente ao fracasso.

A revolução silenciosa que redefine a liderança
Cristian recorda o exemplo de Satya Nadella, que transformou a Microsoft ao assumir uma postura de learn-it-all em vez de know-it-all. Para ele, este é o verdadeiro diferencial dos líderes que prosperam: a capacidade de aprender continuamente e de traduzir esse conhecimento em objetivos claros.
“As empresas que melhor estão a aproveitar a IA não são apenas as que possuem tecnologia superior, mas aquelas cujos líderes utilizam IA para definir alvos com precisão cirúrgica. Elas sabem que ter um OKR muito bem definido é vital para que a visão chegue às pessoas e elas percebam no que é mais importante focar”, destaca.
Google, Intel, Adobe ou LinkedIn dominam, não apenas pela tecnologia, mas pela mentalidade dos seus líderes, que assumem a necessidade de aprender e aplicam a IA na estratégia, não apenas na execução.

A pergunta que devia inquietar os CEOs
Cristian deixa um desafio direto aos líderes: “Consegue admitir publicamente que precisa aprender mais sobre IA, ou a sua resistência está a sabotar a sua relevância estratégica?”
Na sua perspetiva, a diferença entre os CEOs que prosperam e os que são substituídos está menos na capacidade de decidir sozinhos e mais na disciplina para continuar a aprender e na humildade de reconhecer limitações.

Para Cristian Cavalheiro, a humildade tornou-se uma competência estratégica indispensável. Líderes que mantêm uma postura de aprendizagem contínua conseguem aproveitar o potencial da inteligência artificial para definir alvos, mobilizar pessoas e executar com disciplina.
O futuro, defende, pertence aos CEOs que equilibram a confiança necessária para liderar com a humildade indispensável para continuar a crescer.