O crescimento dos ecossistemas tecnológicos no Brasil e na Europa depende cada vez mais da capacidade das organizações aprenderem de forma contínua. Neste artigo, Philipp Reisinger analisa como o feedback se tornou um elemento decisivo para reter talento, fortalecer equipas e transformar resoluções de fim de ano em evolução real.
O fim do ano desperta inevitavelmente um movimento de reflexão. Profissionais e empresas revisitam conquistas, reavaliam decisões e procuram transformar aprendizagens em objetivos para o ciclo seguinte. No setor tecnológico, esse processo é ainda mais necessário. Operamos em mercados competitivos, em rápida transformação e cada vez mais dependentes da capacidade humana de aprender, ajustar e evoluir. Por isso, as resoluções de fim de ano não deveriam ser apenas intenções, mas compromissos sustentados por dados concretos sobre o contexto em que atuamos e, principalmente, sobre o tipo de cultura organizacional que construímos. É nesse ponto que o feedback ganha centralidade.
“O feedback é o mecanismo que transforma resoluções genéricas em planos reais de evolução.”
Olhando para o mercado brasileiro, a fotografia atual revela oportunidades e desafios claros. Segundo dados recentes da ABES em parceria com a IDC, o Brasil manteve-se em 2025 como o décimo maior mercado mundial de software e serviços de TI. Apesar desta posição expressiva, representa apenas cerca de 1,5 por cento do mercado global, o que evidencia potencial de expansão, mas também a distância relativamente a ecossistemas mais maduros. Além disso, projeções da Brasscom indicam que o setor de TIC pode gerar entre 30 mil e 147 mil empregos formais até ao final de 2025, sendo mais de metade dessas posições diretamente ligadas à tecnologia. Ainda assim, o país convive com um paradoxo persistente: embora sobrem vagas, muitas empresas relatam dificuldade em encontrar profissionais com as competências necessárias, e estudos mostram que desenvolvedores que deixam os seus empregos o fazem frequentemente por insatisfação, baixa autonomia ou exaustão. Isto indica que, mais do que formar talentos, o desafio está em criar ambientes onde estes queiram permanecer.
No cenário europeu, o panorama é diferente, mas igualmente exigente. O mercado de software no continente movimenta cerca de 490 mil milhões de euros, com um crescimento anual composto em torno de 6,9 por cento desde 2020. São aproximadamente três milhões de profissionais a atuar no setor e uma procura crescente por serviços digitais, impulsionada pela adoção da nuvem, automação, cibersegurança e inteligência artificial. Paradoxalmente, mesmo com a sua maturidade, a Europa enfrenta o seu próprio estrangulamento: mais de 57 por cento das empresas relatam dificuldade em encontrar desenvolvedores qualificados. A competição por talento é intensa e a retenção tornou-se um dos pilares estratégicos das organizações. Neste contexto, as empresas europeias tendem a adotar processos estruturados de acompanhamento e comunicação, com retrospectivas frequentes e ciclos formais de feedback.
Ao observarmos estes dois mundos, torna-se evidente que, apesar das diferenças em números e ritmos, existe um denominador comum. Tanto o Brasil como a Europa lidam com escassez de profissionais altamente qualificados. Em ambos os casos, contratar não basta. É preciso envolver, desenvolver e reter. É aqui que o feedback se torna um diferencial competitivo. Ele é o mecanismo que dá forma às resoluções de fim de ano, transformando metas genéricas em planos concretos de evolução. É o instrumento que reduz ruídos, evita desalinhamentos e cria segurança psicológica. E é a prática que transforma o crescimento dos mercados em crescimento real das pessoas.
Resoluções eficazes não surgem apenas de ambições, mas de evidências. Em vez de “quero ser um profissional melhor”, a pergunta deveria ser “que tipo de comportamento, competência ou resultado preciso desenvolver — e que feedbacks ao longo do ano me ajudarão a chegar lá?”. Nas equipas, a lógica é a mesma. Empresas brasileiras, com a sua criatividade e velocidade, ganham significativamente quando incorporam rituais de conversas francas, consistentes e baseadas em dados. Organizações europeias, com os seus processos estruturados, avançam quando equilibram formalidade com empatia e flexibilidade. Em ambos os casos, o feedback amadurece relações profissionais e prepara as equipas para responder ao ritmo acelerado da tecnologia.
“Contratar não basta. O verdadeiro desafio nos ecossistemas tecnológicos é criar ambientes onde os profissionais queiram permanecer.”
No fim de contas, a evolução do setor depende menos de novas linguagens, frameworks ou ferramentas e mais da capacidade de criar ambientes humanos onde a aprendizagem seja contínua. O Brasil cresce rápido, mas precisa de transformar energia em consistência. A Europa é madura, mas precisa de garantir que estrutura não se converte em rigidez. E os profissionais, em qualquer lugar do mundo, precisam de compreender que o passo fundamental para transformar resoluções em resultados é aprender a pedir, receber e oferecer feedback.
Se existe uma resolução universal para quem trabalha com tecnologia, é esta: desenvolver a capacidade de crescer através do diálogo. Porque os mercados evoluem, as empresas transformam-se e as tecnologias mudam — mas a capacidade de aprender com as pessoas ao nosso redor continuará a ser a vantagem mais poderosa que podemos cultivar.