Mulheres na Tecnologia: Quando liderar exige mais do que competência

A pressão psicológica na liderança feminina em tecnologia cresce à medida que aumenta o número de mulheres em cargos de topo.

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As mulheres na tecnologia estão a conquistar mais espaço, mas também a pagar um preço silencioso. O relatório Women in Tech 2025 da Web Summit revela que o aumento da presença feminina em posições de liderança vem acompanhado de um fardo emocional crescente. A pressão psicológica na liderança feminina tornou-se uma das dimensões mais negligenciadas do debate sobre igualdade de género.

O estudo mostra que 81% das mulheres sentem-se preparadas para liderar, um recorde histórico, mas também expõe o reverso do progresso: o esforço constante para provar mérito, evitar erros e manter uma imagem de força inabalável. A mesma confiança que impulsiona as carreiras femininas é muitas vezes acompanhada por exaustão mental e sentimento de isolamento.

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O preço invisível de “provar competência”

Uma das citações mais marcantes do relatório resume o dilema: “Tenho sempre de ser uma das raparigas que aguenta tudo. Qualquer falha é vista como fraqueza das mulheres, não como uma oportunidade de aprendizagem.”

Este testemunho espelha uma realidade generalizada — 82% das profissionais inquiridas afirmam que precisam de trabalhar mais do que os homens para serem levadas a sério. Este padrão de sobre-desempenho, conhecido na psicologia organizacional como impostor cycle, leva à autocrítica permanente e, a longo prazo, ao desgaste emocional.

Muitas mulheres em cargos de chefia relatam ainda que o esforço para “serem levadas a sério” acaba por afastá-las da sua própria autenticidade, obrigando-as a adotar comportamentos masculinizados para se manterem relevantes.

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Quando o sucesso se transforma em solidão

O relatório dedica um capítulo às questões que “faltam na conversa” sobre igualdade. Entre elas, o impacto psicológico da liderança e o vazio de apoio emocional nas empresas tecnológicas.

As entrevistadas apontam o isolamento como um dos maiores desafios: falta de pares femininos, ausência de programas de mentoria e dificuldade em partilhar vulnerabilidades sem receio de julgamento. “As mulheres líderes vivem num paradoxo”, lê-se no relatório, “são vistas como exemplos de sucesso, mas raramente lhes é permitido falhar.”

Este ambiente cria uma pressão interna constante, reforçada pela falta de políticas de saúde mental corporativa adaptadas à realidade de quem acumula liderança, desempenho e carga familiar.

Cuidar de quem lidera

O relatório sugere que a solução não passa apenas por aumentar o número de mulheres em cargos de topo, mas por transformar a cultura das organizações. A verdadeira igualdade implica reconhecer que o bem-estar psicológico é uma dimensão essencial da liderança sustentável.

Programas de coaching emocional, redes de apoio e políticas de flexibilidade são ferramentas cada vez mais valorizadas pelas líderes que procuram conciliar impacto com equilíbrio. A integração de IA e automação, apontada por muitas como forma de libertar tempo, pode também desempenhar um papel positivo — desde que acompanhada por mudanças culturais que eliminem a culpa associada à pausa ou ao erro.

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Um novo paradigma de liderança

Ao celebrar dez anos do programa Women in Tech, a Web Summit mostra que a equidade não se mede apenas por números, mas pela qualidade da experiência de quem lidera.

A próxima década exigirá que as empresas tecnológicas avancem do discurso da diversidade para a prática do cuidado. Liderar não pode continuar a ser um ato de resistência — deve ser um exercício de equilíbrio, autenticidade e bem-estar.

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