Salário Mínimo em Portugal: Ainda Distante da Média Europeia

Portugal aumentou o salário mínimo, mas permanece longe dos padrões europeus. A Europa continua dividida, longe da convergência salarial.

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Portugal iniciou 2025 com um novo aumento do salário mínimo nacional, fixando-o nos 870 euros mensais (x14), o que representa uma subida de 6,1% face ao valor de 2024. Esta medida, inserida na Estratégia de Valorização dos Rendimentos do Governo, pretende garantir uma trajetória progressiva até aos 1.020 euros mensais em 2028. No entanto, apesar do reforço do rendimento mínimo, o país continua a posicionar-se entre os mais baixos da Europa Ocidental.

A realidade salarial portuguesa, quando colocada lado a lado com os dados europeus, revela não só as dificuldades do país em acompanhar o ritmo de convergência com os seus parceiros mais desenvolvidos, como também lança luz sobre as desigualdades persistentes dentro da União Europeia.

Salário mínimo em Portugal: estabilidade com limites

O aumento de 6,1% do salário mínimo para 870 euros (correspondente a cerca de 620 euros líquidos) foi saudado como um passo necessário para mitigar os efeitos da inflação, especialmente nos setores com menor poder de compra. Esta medida procura garantir maior equidade e dignidade laboral, num país onde os baixos salários continuam a ser um entrave à mobilidade social e à retenção de talento.

Contudo, à luz dos dados do relatório da BestBrokers sobre a evolução dos salários mínimos e dos salários médios por hora na Europa, o esforço português continua insuficiente para encurtar distâncias. Países com estruturas económicas comparáveis — como Espanha ou Eslovénia — oferecem salários mínimos mensais mais elevados, enquanto as capitais mais prósperas da Europa apresentam valores por hora que multiplicam o rendimento português.

Desigualdade estrutural no contexto europeu

A Europa apresenta um cenário profundamente desigual em matéria salarial. Em 2025, o salário mínimo mais elevado é praticado no Luxemburgo (2.638 euros), seguido por Reino Unido, Irlanda, Países Baixos e Alemanha — todos acima dos 2.200 euros mensais. No extremo oposto, Arménia, Bulgária e Sérvia continuam com mínimos abaixo dos 650 euros.

Portugal mantém-se no grupo intermédio, mais próximo das economias da Europa de Leste do que dos seus pares da zona euro ocidental. Esta distância torna-se ainda mais evidente quando observamos os salários médios por hora nas capitais. Em Lisboa, apesar da recuperação económica e do dinamismo no setor tecnológico e turístico, os salários continuam abaixo da média europeia, colocando pressão sobre o custo de vida — especialmente na habitação.

salário mínimo em Portugal 2025
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Crescimento real vs. custo de vida

O aumento nominal do salário mínimo tem sido consistente ao longo da última década em Portugal. No entanto, quando ajustado à inflação e ao custo real da vida nas principais cidades, esse crescimento revela-se limitado. A dificuldade em garantir um rendimento compatível com as despesas básicas tem impacto direto no bem-estar das famílias e na capacidade de atrair e fixar trabalhadores qualificados.

É neste contexto que as comparações com outras capitais europeias se tornam particularmente reveladoras: em Berna, o salário médio por hora ultrapassa os 40 euros; em Copenhaga e Luxemburgo, ronda os 30 euros. Mesmo em cidades com custos elevados, como Londres ou Bruxelas, os rendimentos por hora rondam os 30 euros — mais do triplo do que se verifica em muitas cidades do sul da Europa.

Caminhos para a convergência

Portugal tem feito progressos consistentes na valorização do trabalho, mas o ritmo de convergência continua dependente de reformas estruturais mais profundas. A aposta na produtividade, na qualificação da mão-de-obra e na inovação empresarial serão determinantes para assegurar um crescimento económico que se reflita em salários mais elevados.

A trajetória até 2028, com a meta dos 1.020 euros de salário mínimo, será insuficiente se não vier acompanhada de medidas que promovam também o crescimento dos salários médios e a redistribuição da riqueza. Num espaço económico comum, as assimetrias salariais profundas comprometem a coesão social e a eficácia do mercado interno europeu.

salário mínimo em Portugal 2025
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Salário mínimo na Europa: quem lidera, quem estagna e o que está em causa

A evolução dos salários mínimos na Europa em 2025 confirma um cenário de contrastes acentuados entre Leste e Oeste, Norte e Sul. Enquanto algumas economias reforçaram o compromisso com melhores rendimentos, outras mantiveram-se praticamente inalteradas, mesmo com o aumento generalizado do custo de vida.

A análise dos dados recolhidos pela plataforma BestBrokers evidencia uma Europa dividida entre países que apostam no reforço do rendimento mínimo como motor de justiça social e competitividade, e outros que se mantêm presos a um crescimento anémico ou à estagnação salarial.

Crescimento expressivo no Leste europeu

A Bósnia e Herzegovina lidera, de forma destacada, o ranking de aumentos salariais mínimos em 2025. O país registou um crescimento de 64,74%, mais que duplicando o rendimento base mensal. Esta subida expressiva reflete não apenas uma correção necessária face a baixos níveis anteriores, mas também uma mudança política significativa, assumida como bandeira de estabilização social e atratividade económica.

Seguem-se a Roménia (22,78%), Bulgária (15,51%) e Croácia (15,48%). Estes países demonstram um esforço concertado para alinhar os salários mínimos com os padrões europeus e responder à pressão inflacionista. Também a Sérvia (13,79%) figura no top 5, reforçando a tendência de aceleração salarial na região dos Balcãs.

Este crescimento, no entanto, parte de bases salariais historicamente baixas. Em muitos destes países, os salários mínimos mensais em 2024 eram inferiores a 700 euros. Assim, mesmo com estes aumentos expressivos, permanecem afastados dos valores praticados nas economias mais avançadas.

Portugal aumentou o salário mínimo, mas poder de compra permanece longe dos padrões europeus.
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Estagnação no Chipre e na Arménia

No extremo oposto, Chipre e Arménia não registaram qualquer alteração nos seus salários mínimos entre 2024 e 2025. A manutenção de valores inalterados levanta dúvidas sobre a capacidade de resposta destas economias aos desafios sociais emergentes. A Arménia, com um salário mínimo fixado nos 183 euros mensais, ocupa a última posição na tabela europeia.

Importa sublinhar que, embora geograficamente situada na Ásia, a Arménia integra politicamente a esfera europeia e tem aspirações à adesão à União Europeia, tornando relevante a sua inclusão neste tipo de análises. O seu posicionamento no final da tabela salienta a necessidade de reformas estruturais profundas.

Outros países com aumentos residuais incluem a Hungria (1,43%), Eslovénia (1,91%), França (1,98%) e Bélgica (2,02%). Também o Luxemburgo, apesar de ter o salário mínimo mais elevado da Europa (2.638 euros mensais), limitou o seu aumento a 2,61%.

O pódio dos salários mínimos mais elevados

Apesar do aumento modesto, o Luxemburgo mantém a liderança europeia em valor absoluto de salário mínimo. A acompanhar estão o Reino Unido (2.398 euros) e a Irlanda (2.282 euros), seguidos de perto por Países Baixos e Alemanha. Estes países não só oferecem rendimentos mais elevados, como sustentam esse nível com estruturas laborais mais produtivas e níveis de vida mais altos.

Estes salários permitem um maior conforto financeiro, mas também refletem o custo elevado de vida nas respetivas capitais. O diferencial face a países da Europa Oriental continua a ser superior a 1.000 euros mensais na maioria dos casos.

Que futuro se desenha para a convergência salarial no continente europeu?
Na foto: Bandeiras da União Europeia (fotograma de vídeo da UE).

Uma Europa a várias velocidades

A evolução do salário mínimo revela muito mais do que simples variações nominais. Ela traduz escolhas políticas, capacidades económicas e prioridades sociais. A diferença de mais de 30 vezes entre o salário mínimo da Arménia e o do Luxemburgo é sintomática de uma Europa que ainda não encontrou um equilíbrio na distribuição do rendimento e nas oportunidades de trabalho.

Os dados de 2025 mostram que há uma vontade crescente, especialmente no Leste europeu, de encurtar essa distância. Mas o ritmo continua desigual e dependente da conjuntura económica de cada país. Os próximos anos serão decisivos para saber se estas tendências convergem numa Europa mais justa ou se acentuam as clivagens entre centro e periferia.

O fosso das capitais: quanto se ganha por hora nas cidades da Europa?

As capitais europeias não são apenas centros políticos e culturais — são também o espelho das desigualdades económicas do continente. A análise dos salários médios por hora em 2025 evidencia um fosso persistente entre as cidades do norte e oeste da Europa e as suas congéneres no leste e sudeste.

Enquanto algumas capitais oferecem remunerações elevadas e condições de vida condizentes com economias desenvolvidas, outras continuam marcadas por baixos salários que limitam o poder de compra e a mobilidade social. A questão que se impõe é: até que ponto estas diferenças comprometem a coesão económica europeia?

A Europa continua dividida entre salários altos e baixos
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Berna no topo: quando o salário reflete o custo e a produtividade

A capital suíça lidera destacadamente o ranking com um salário médio por hora de 40,01 euros. Este valor não é apenas resultado de um elevado nível de vida, mas também de um mercado de trabalho altamente qualificado e produtivo. A Suíça, apesar de não integrar a União Europeia, continua a ser referência em matéria de remuneração justa e competitividade económica.

Luxemburgo segue com 38,43 euros por hora, enquanto Copenhaga surge em terceiro lugar, com 30,65 euros. Estas capitais são marcadas por uma forte presença de sectores financeiros, tecnológicos e administrativos, bem como por modelos sociais robustos que valorizam o trabalho qualificado e protegem o rendimento dos cidadãos.

O grupo intermédio: entre a estabilidade e o custo de vida

Capitais como Londres, Bruxelas, Berlim e Amesterdão posicionam-se na faixa dos 27 a 30 euros por hora. São cidades com economias maduras, que albergam centros de decisão política e grandes empresas multinacionais. No entanto, também enfrentam custos de habitação elevados e desigualdades internas que diluem parte do benefício salarial.

Bruxelas, por exemplo, tem um rendimento médio semelhante ao de Londres (30,09 euros), mas os seus residentes trabalham, em média, mais seis horas por semana — uma diferença significativa em termos de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

convergência salarial na Europa
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A outra Europa: salários baixos e convergência adiada

No extremo oposto encontram-se capitais como Zagreb (1,41 euros/hora), Yerevan (2,90 euros) e Sarajevo (4,90 euros). Tirana (6,41 euros) e Sófia (7,31 euros) completam o grupo com os salários mais baixos.

Estas cidades refletem economias ainda em transição, com mercados laborais mais frágeis, menor especialização e elevado peso da informalidade. Apesar de algumas reformas nos últimos anos, o ritmo de convergência com os padrões da UE é lento, e os ganhos reais para os trabalhadores permanecem limitados.

Além dos números, importa destacar o impacto prático: com rendimentos tão reduzidos, a capacidade de aceder a habitação, saúde, educação e lazer fica seriamente comprometida. A atração de talento e a retenção de jovens qualificados também se tornam difíceis, perpetuando o ciclo de desigualdade.

Lisboa: um caso intermédio com desafios próprios

Embora não figure nos extremos da tabela, Lisboa também não se destaca entre as capitais mais bem remuneradas. Com salários por hora abaixo dos principais centros da Europa Ocidental, a capital portuguesa enfrenta o desafio do custo de vida em rápida escalada — nomeadamente na habitação — sem que o rendimento médio acompanhe proporcionalmente.

Este desfasamento levanta alertas quanto à sustentabilidade da atratividade de Lisboa como cidade para viver e trabalhar, sobretudo entre os mais jovens e os profissionais qualificados.

Uma Europa com muitas capitais — e muitos mundos

A comparação entre as capitais revela que as disparidades salariais são mais do que uma estatística: são um reflexo das desigualdades estruturais entre economias europeias. Enquanto algumas cidades operam como motores de inovação e riqueza, outras continuam limitadas por contextos económicos frágeis.

Fechar este fosso exigirá mais do que aumentos pontuais de salário. Implica investimento em educação, inovação, modernização das administrações públicas e políticas de coesão territorial. Uma Europa verdadeiramente unida não pode continuar a tolerar que um trabalhador em Berna receba quase 30 vezes mais por hora do que um colega em Zagreb — a menos de duas horas de voo de distância.

salário mínimo em Portugal
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Editorial | Salários na Europa: uma promessa por cumprir

O mercado de trabalho europeu atravessa um paradoxo. Num continente onde a livre circulação de pessoas, bens e capitais é uma realidade consolidada, os salários continuam a revelar um mosaico de desigualdades que contradizem o ideal de coesão económica e social. A disparidade entre os rendimentos praticados nas capitais do norte e oeste da Europa, e os salários mínimos do leste e sudeste, expõe uma verdade desconfortável: a Europa é uma união em termos legais, mas ainda profundamente fragmentada em termos laborais.

Os dados de 2025 mostram progressos — alguns países da Europa Central e dos Balcãs implementaram aumentos significativos no salário mínimo. A Bósnia e Herzegovina, por exemplo, mais do que duplicou o seu valor. Mas este esforço, embora louvável, parte de bases muito baixas e continua a não permitir uma vida digna a uma parte significativa dos trabalhadores.

Em contrapartida, países como Luxemburgo, Irlanda ou Países Baixos mantêm salários mínimos acima dos 2.300 euros mensais, sustentados por economias mais produtivas e mercados de trabalho mais estruturados. Nas suas capitais, os salários médios por hora rondam os 30 a 40 euros — um universo distante das realidades de cidades como Zagreb, Yerevan ou Sarajevo, onde o rendimento por hora pode não chegar aos 5 euros.

A promessa de convergência que tarda

A convergência salarial tem sido, desde a ampliação da União Europeia, uma das grandes promessas do projeto europeu. A expectativa era simples: com o tempo, o investimento, a modernização e o acesso ao mercado comum, as economias periféricas cresceriam e os salários nivelar-se-iam por cima. Mas essa convergência continua por cumprir.

A crise do Euro, a pandemia, a inflação e a instabilidade geopolítica vieram agravar os desequilíbrios existentes. Muitos países foram forçados a conter salários em nome da estabilidade orçamental, enquanto outros aproveitaram a crise para reforçar a sua vantagem competitiva. O resultado é uma Europa com fluxos migratórios internos crescentes, onde muitos trabalhadores se deslocam para outros países não por opção, mas por necessidade.

Profissionais descontentes com aumentos salariais
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Portugal no espelho da desigualdade

Portugal ocupa uma posição intermédia neste cenário. Com aumentos graduais do salário mínimo — que chegou aos 870 euros em 2025 — e uma meta assumida de alcançar os 1.020 euros até 2028, o país demonstra um compromisso com a valorização do trabalho. Mas a distância para os países do núcleo europeu continua a ser substancial. Lisboa, ainda que dinâmica, não consegue competir com as capitais do norte em termos de rendimento, enquanto o interior do país permanece marcado por salários baixos e menor mobilidade social.

O que está em causa

Mais do que números, os salários representam poder de compra, qualidade de vida e dignidade. São um reflexo do valor que a sociedade atribui ao trabalho. A persistência de diferenças tão acentuadas dentro de uma mesma união política e económica compromete não só a justiça social, mas também a estabilidade do próprio projeto europeu.

Não se trata de impor uniformidade, mas de garantir que todos os cidadãos, independentemente do país onde nasceram, tenham acesso a condições mínimas justas. Para isso, não bastam aumentos pontuais. É necessária uma estratégia europeia de valorização salarial, combinada com políticas de coesão, investimento produtivo e reformas estruturais.

Conclusão

A Europa que se construiu sobre os alicerces da solidariedade e da convergência precisa agora de enfrentar o seu próprio espelho. A disparidade salarial entre as suas capitais e regiões não é um problema técnico — é um teste político e ético. Sem salários dignos e equitativos, a ideia de uma Europa social continuará a ser apenas isso: uma ideia.

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