Talento sénior e sustentabilidade laboral: o dilema demográfico português

O talento sénior no mercado de trabalho é decisivo para enfrentar o envelhecimento populacional. A análise da Randstad revela os desafios até 2050.

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A evolução demográfica tornou o talento sénior no mercado de trabalho um dos pilares críticos da economia portuguesa. A nova análise da Randstad expõe o impacto estrutural desta transição e os desafios que o país enfrentará até 2050.

A nova análise da Randstad Research aprofunda o papel dos profissionais entre os 55 e os 64 anos no futuro económico do país. Segundo o estudo, Portugal encontra-se perante uma transformação demográfica sem precedentes, com efeitos diretos na estrutura produtiva. Em 2024, 38% da população tinha mais de 55 anos e as projeções apontam para 46% até 2050, o equivalente a quase metade dos habitantes. “Por cada dez profissionais que saem para a reforma, entram menos de sete jovens no mercado de trabalho”, sublinha o relatório, revelando a dimensão do desequilíbrio geracional.

No contexto europeu, Portugal já é o segundo país mais envelhecido da União Europeia, apenas atrás da Itália, e continuará acima da média comunitária nas próximas décadas. Esta inversão do perfil demográfico coloca pressão acrescida sobre setores estratégicos e sobre sistemas sociais como a Segurança Social e a Saúde.

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Um quinto da força de trabalho já é sénior

A participação da população sénior no mercado de trabalho atingiu valores históricos. Em 2024, 1,07 milhões de profissionais com mais de 55 anos estavam ativos, representando 19,6% da força laboral. Uma em cada cinco pessoas empregadas pertence a este grupo etário, que duplicou em número absoluto na última década. A distribuição por género é equilibrada, refletindo o aumento da longevidade feminina e uma maior participação das mulheres no mercado de trabalho.

Contudo, este reforço não elimina fragilidades. Os profissionais séniores continuam a enfrentar maior dificuldade de reintegração quando ficam desempregados. Em 2024, 18,1% do total de desempregados tinha mais de 55 anos, e 28,8% dos desempregados de longa duração pertenciam a esta faixa etária, representando o valor mais elevado entre todos os grupos demográficos. A maturidade profissional traduz-se em experiência, mas também em maior vulnerabilidade quando ocorre uma rutura laboral.

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Um desequilíbrio geracional que ameaça a produtividade

A taxa de renovação geracional é um dos indicadores mais críticos deste relatório. Portugal regista apenas 68%, a quarta pior taxa da União Europeia, o que significa que existem menos de sete jovens por cada dez profissionais prestes a sair do mercado. Sem uma reposição natural das saídas por reforma, o país enfrenta o risco de uma contração da força laboral, perda de produtividade e maior dependência externa, seja através da imigração de jovens trabalhadores, seja pelo prolongamento obrigatório da vida ativa.

Neste enquadramento, o talento sénior no mercado de trabalho deixa de ser apenas uma variável demográfica e transforma-se num fator económico determinante. A valorização deste segmento torna-se essencial para mitigar o défice estrutural de competências e garantir a sustentabilidade económica nos próximos 25 anos.

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O talento sénior como alavanca económica

A Randstad defende que a resposta não pode limitar-se a medidas restritivas ou cortes. Exige, pelo contrário, uma visão estratégica que coloque o talento sénior no centro das políticas económicas e sociais. “Portugal enfrenta o envelhecimento populacional como o seu maior dilema de sustentabilidade social e financeira”, afirma Érica Pereira, diretora da área de Professional Talent Solutions da Randstad. Para a responsável, a chave passa por ativar uma economia capaz de incorporar os profissionais mais velhos em setores de elevado valor, promovendo consumo ativo, longevidade saudável e uma base contributiva mais ampla.

Érica Pereira reforça que “o talento sénior deve ser visto como um contributo de receita e inovação”. Segundo a especialista, ao promover o emprego e a inclusão desta geração, o país transforma um desafio demográfico numa oportunidade de reforço da equidade intergeracional.

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Uma prioridade para a próxima década

A análise conclui que a evolução demográfica colocará profissionais com mais de 55 anos no centro das decisões económicas: serão essenciais para manter a produtividade, assegurar a continuidade de setores críticos e sustentar os sistemas sociais. Portugal terá de acelerar políticas de valorização da experiência, formação contínua, reconversão profissional e modelos de trabalho inclusivos. Sem essa resposta, o desequilíbrio geracional tornar-se-á uma barreira estrutural ao crescimento económico.

A discussão sobre o talento sénior no mercado de trabalho é, assim, indissociável da estratégia nacional para a próxima década: sem estes profissionais, não haverá força laboral suficiente para sustentar o país até 2050.

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