Transformação tecnológica encontra barreiras humanas

A transformação nas Finanças e Imobiliário acelera com a IA, mas a escassez de talento é um obstáculo crítico.

Foto de Turzo Plays em Freepik

O setor das Finanças e Imobiliário está a atravessar uma das mais profundas reconfigurações da última década. A disrupção tecnológica — em particular a adoção crescente de Inteligência Artificial (IA) — está a redesenhar operações, modelos de negócio e perfis de consumo. Mas o ritmo desta transformação depende cada vez mais da capacidade de atrair e reter talento qualificado. O mais recente estudo Global Insights do ManpowerGroup expõe essa tensão: entre o avanço das tecnologias e a escassez crítica de competências.

Pedro Amorim, Corporate Sales Director do ManpowerGroup, resume o paradoxo: “A oportunidade de gerar valor é significativa, mas será essencial contar com talento qualificado.” Numa altura em que a IA, o Big Data e a experiência do cliente dominam a agenda, os líderes enfrentam uma competição crescente por perfis com competências técnicas e criativas — escassos e altamente disputados entre setores.

Foto de Syda Productions em Freepik

A escassez de talento como travão estratégico

A pressão para recrutar profissionais com competências digitais, de cibersegurança, compliance e analytics está a crescer. No setor financeiro e imobiliário, 72% das empresas admitem dificuldades em encontrar o talento necessário. E esse défice agrava-se quando se considera a transversalidade da transformação digital: os mesmos perfis são procurados por setores como a saúde, retalho ou tecnologias de informação.

Este contexto obriga as organizações a repensarem a forma como recrutam, capacitam e retêm talento. A aposta em formação contínua, programas de reskilling e modelos de trabalho atrativos será determinante para manter competitividade num mercado que evolui mais depressa do que a oferta de competências.

Foto de Fad Febrian em Freepik

IA transforma operações, mas exige capacitação

A adoção de ferramentas de IA no setor financeiro não é marginal: 54% das empresas já recorrem a soluções de IA conversacional, mais 26% do que no ano anterior. A IA é usada para otimizar o atendimento ao cliente, automatizar processos e reforçar a gestão de risco. Mas este progresso traz novos desafios: privacidade, regulamentação, custos elevados e, acima de tudo, falta de competências específicas.

O impacto da IA na produtividade pode atingir os 40%, segundo o MIT. Mas para isso é necessário investimento sério em capacitação. O risco, se ignorado, é criar uma infraestrutura digital moderna com equipas despreparadas para tirar partido das suas funcionalidades.

Foto de Peshkova Galina em Freepik

Experiência do cliente: o novo diferencial competitivo

Num setor onde 57% dos utilizadores já gerem os seus serviços bancários pelo telemóvel, a personalização e a omnicanalidade tornaram-se requisitos básicos. O estudo revela que 60% dos clientes estão dispostos a partilhar mais dados em troca de serviços mais simples e rápidos — uma abertura que exige das empresas inovação sustentada em tecnologias como IA e Big Data.

Contudo, essa inovação depende de equipas capazes de conceber, testar e lançar soluções continuamente. Perfis com competências em tecnologias de informação, vendas e marketing são dos mais difíceis de recrutar no setor, tornando a experiência do cliente um desafio tanto tecnológico como humano.

Externalização e o dilema da proximidade

A resposta de muitas organizações tem passado pela externalização e offshoring, em busca de talento qualificado e custos mais competitivos. Esta estratégia permite melhorar a eficiência operacional, mas exige uma gestão prudente dos riscos regulatórios e geopolíticos, cada vez mais relevantes. Em contrapartida, cresce também um movimento de relocalização de serviços, motivado pela necessidade de proximidade ao mercado e à cadeia de valor.

Foto de TTonaorh em Freepik

Regresso aos escritórios: mais do que uma reversão, uma reinvenção

No setor imobiliário comercial, a adesão crescente ao trabalho híbrido e as alterações nas taxas de juro estão a estimular uma recuperação. Dados da KPMG mostram que 83% dos CEOs esperam um regresso total aos escritórios nos próximos três anos. Mas essa transição, se mal gerida, pode acentuar a rotatividade: mais de um terço dos trabalhadores afirma que poderá mudar de emprego nos próximos seis meses.

O regresso ao escritório deve, por isso, ser encarado como uma oportunidade para repensar os espaços de trabalho — com foco na interação, colaboração e produtividade, e não como um simples retorno ao passado.

Num setor em que as mudanças tecnológicas, regulatórias e comportamentais se entrelaçam, o relatório salienta que a transformação nas Finanças e Imobiliário dependerá menos das ferramentas adotadas e mais das pessoas que as saibam usar. Investir no talento é hoje a condição mínima para sobreviver — e a chave para liderar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui

two × three =