Geração Z: Revolta silenciosa ou fuga em massa?

Neste artigo de Opinião, José Mendes destaca os desafios da Geração Z para o mercado de trabalho, à luz do recente relatório da Randstad que aponta para uma elevada mobilidade laboral nas gerações mais novas e a dificuldade de retenção de profissionais qualificados por parte das empresas.

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Dizem que a Geração Z não fica quieta em lado nenhum. Têm razão: ficam, em média, apenas 1,1 anos em cada emprego. Mas será isto um defeito da geração, ou o sintoma de um mercado que já não oferece nada a que valha a pena agarrar-se?

O relatório da Randstad é claro: os jovens querem futuro, mas não encontram portas de entrada. Desde 2024, as funções júnior caíram 29%. Na tecnologia, que se vende como o motor do progresso, o corte foi de 35%. O recado é cruel: precisamos de talento, mas não queremos dar-lhe espaço para aprender.

Não se trata de quiet quitting. Trata-se de cálculo. Os Gen Z mudam de empresa porque não aceitam percorrer corredores sem saída. Chamam-lhes voláteis, quando o que são é lúcidos: sabem que um contrato curto vale mais do que uma promessa vazia.

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E depois há a Inteligência Artificial, usada por 55% deles no trabalho e por 75% como ferramenta de aprendizagem. A geração que domina a tecnologia é também a que mais teme ser engolida por ela. Quase metade receia que a IA lhes roube o futuro. É um paradoxo: entregam-se à inovação com entusiasmo, mas percebem que podem ser as primeiras vítimas dela.

Os gestores mais velhos interpretam esta inquietação como fragilidade. O erro é deles. A geração que crescerá a liderar não aceita o velho pacto de submissão disfarçado de lealdade. Trabalham, sim — e bem. Mas só até ao ponto em que o respeito acaba.

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Se antes o “quiet quitting” era uma metáfora, hoje a fuga em massa é estatística. E não se resolve com workshops de motivação ou discursos sobre “cultura organizacional”. Resolve-se com progressão real, salários justos e líderes que inspirem em vez de amedrontar.

A Geração Z não está a abandonar o trabalho. Está a abandonar a farsa. O desafio não é domesticá-los, é mudar um sistema que insiste em servir contratos rasgados embrulhados em frases de LinkedIn.

Chamem-lhes o que quiserem — preguiçosos, inquietos, impacientes. No fundo, são apenas a primeira geração a ter coragem de dizer alto aquilo que os anteriores já pensavam em silêncio: o rei vai nu, e não vale a pena perder tempo a fingir o contrário.

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