“A Ciência tanto pode fazer o bem, como criar monstros”

António Guterres
Foto: Web Summit

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu uma nova visão estratégica para responder aos impactos da revolução tecnológica.

Guterres participou na sessão de abertura da edição de 2017 do Web Summit, a cimeira mundial de tecnologia que decorre em Lisboa até 9 de novembro.

O secretário-geral da ONU alertou para duas ameaças: o aquecimento global e a crescente desigualdade entre as pessoas, geradoras de maior empobrecimento das populações e do aumento de migrações.

Além das ameaças, há também o desafio tecnológico. “Temos de olhar para o futuro próximo com uma visão estratégica, que combine a atuação de governos, sociedade civil, setor privado e academia para que a inovação tecnológica seja uma força para o bem”. Sublinhou António Guterres.

“Esta quarta revolução industrial terá um impacto dramático nas sociedades e na nossa maneira de viver nos mercados, por isso é importante antecipar o impacto da evolução tecnológica”, disse Guterres, exemplificando com os condutores de veículos nos Estados Unidos. “Os condutores são a maior força de trabalho onde eu vivo, nos Estados Unidos, mas com a automatização e a robotização teremos de aprender a antecipar o futuro para evitarmos uma taxa de desemprego massiva”, disse.

A ciência e a tecnologia não são neutras, podemos erradicar doenças com engenharia genética, mas também podemos criar monstros

A solução não passa por travar a tecnologia, mas utilizá-la para resolver os problemas. “Temos de evitar a reação estúpida de tentar parar a inovação, isso é estúpido porque é impossível e porque impede que tenhamos os benefícios positivos, mas temos também de evitar a ingenuidade de pensar que as formas tradicionais de regulação para setores como a energia ou o sistema financeiro podem resolver o problema”, defendeu António Guterres.

O secretário-geral das Nações Unidas apontou alguns dos principais problemas que, na sua opinião, ameaçam o planeta, como as alterações climáticas, o crescimento económico, a pobreza ou as migrações resultantes das desigualdades, Guterres defendeu que “a globalização é uma força para fazer o bem, e as novas tecnologias também”, mas podem ser causadoras de “danos colaterais”.

“A resposta aos danos colaterais é uma globalização justa, mas a boa notícia é que a ciência está do nosso lado”, defendeu o diplomata, vincando que “a economia verde é a economia do futuro, por isso pode-se fazer dinheiro e fazer o bem”.

Guterres salientou ainda que “é bom que os participantes aqui comecem a discutir o impacto da quarta revolução no futuro, porque a ciência e a tecnologia não são neutras, podemos erradicar doenças com engenharia genética, mas também podemos criar monstros; podemos usar o ciberespaço para melhorar a vida das pessoas ou para facilitar o terrorismo”, alertou.

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