Comércio global em mudança

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O crescimento do PIB mundial deverá ultrapassar o comércio global, pela primeira vez em 25 anos, devido às grandes mudanças nos padrões de comércio atuais. Um estudo da BCG revela ainda que o comércio entre a União Europeia e os EUA deverá aumentar, enquanto o comércio europeu com a China deverá registar um abrandamento na taxa de crescimento.

De acordo com o relatório da Boston Consulting Group (BCG), “Protectionism, Pandemic, War, and the Future of Trade”, o conflito na Ucrânia veio substituir a pandemia, como o principal desafio que o comércio global enfrenta. Pela primeira vez em 25 anos, o comércio mundial irá apresentar um crescimento mais lento do que o do Produto Interno Bruto (PIB) global, no decorrer da próxima década.

O relatório prevê que os padrões de comércio atuais irão sofrer uma grande mudança, com uma taxa de crescimento de apenas 2,3% ao ano até 2031, abaixo dos 2,5% projetados para o crescimento da economia global. Embora o conflito na Ucrânia seja uma força primordial na mudança dos padrões comerciais, há outros fatores, tais como a diminuição da dependência das nações ocidentais no comércio com a China e a ascensão de blocos económicos, como a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que estão a transformar o comércio global.

“O comércio global tem sido significativamente afetado nos últimos três anos, inicialmente pela pandemia e atualmente pelo conflito na Ucrânia e pelas crescentes tensões geopolíticas”, afirma Nikolaus Lang, Managing Director & Senior Partner, Global Leader da BCG Global Advantage Practice, e coautor do relatório. “Após quase 30 anos de um contexto comercial relativamente seguro, vemos agora uma nova dinâmica entre o Oriente e o Ocidente, com um lado a ser liderado pelos EUA e pela UE e a contraparte pela China e pela Rússia, juntamente com o potencial surgimento de um terceiro grupo de nações neutrais”.

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“À medida que as empresas, as indústrias e os países se ajustam às mudanças na dinâmica geopolítica e económica, a sua consequente reestruturação irá gerar oportunidades para alguns e desafios para outros”, comenta Marc Gilbert, Managing Director & Senior Partner da BCG, especialista em temas de geopolítica e comércio, e coautor do relatório. “As mudanças previstas irão continuar a diluir a globalização económica e a abertura comercial que caracterizaram as primeiras três décadas do período pós-Guerra Fria, o que irá resultar num mapa comercial redesenhado, que será consideravelmente diferente do que era em 2021”.

O conflito na Ucrânia provocou uma alteração nas relações comerciais entre a União Europeia e a Rússia. Como resultado, nos próximos nove anos, a UE irá aumentar o seu comércio com os EUA em 338 mil milhões de dólares, impulsionado em grande parte pelo aumento das importações de energia, e irá também expandir as suas parcerias comerciais com os países da ASEAN, África, Médio Oriente e Índia.

Simultaneamente, o comércio entre os EUA e a China irá diminuir em 63 mil milhões de dólares até 2031. O crescimento do comércio entre a UE e a China está também a abrandar, prevendo-se que o comércio nos dois sentidos cresça apenas 72 mil milhões de dólares, um aumento modesto em comparação com os anos anteriores. Contrariamente, o comércio da Rússia com a China irá crescer em 90 mil milhões de dólares, e com a Índia em 20 mil milhões de dólares.

O Sudeste Asiático será o principal beneficiário destas mudanças do mapa comercial, com as novas transações a alcançarem um valor estimado de 1 bilião de dólares, devido, em grande parte, às novas relações comerciais com a China, Japão, EUA e UE, até 2031. O comércio entre a ASEAN e a China irá crescer em 438 mil milhões de dólares, o maior aumento inter-regional, de acordo com as perspetivas do relatório para 2031.

“O novo comércio global está a dar prioridade à resiliência da cadeia de abastecimento e à diversificação global. As empresas devem privilegiar medidas de aumento de resiliência, tais como a criação de stock de segurança de bens e componentes essenciais e de qualificação prévia de fornecedores alternativos”, afirma Michael McAdoo, Partner & Director of Global Trade and Investment, e coautor do relatório. “O ambiente comercial relativamente seguro, que permitiu às empresas desenvolver extensas redes mundiais de fornecimento, deu lugar a um cenário mais incerto que exige um equilíbrio entre os objetivos de eficiência e custos mais baixos e a uma maior consciência dos riscos globais”.

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