Bruno Perin expõe o teatro corporativo e mostra como foco, OKR e IA estratégica podem recuperar a execução e tirar empresas dos 90% que falham.
Porque é que 90% das empresas mundiais fracassam na execução estratégica (e como a IA e o foco podem salvar as outras 10%)?
Vamos começar com uma verdade devastadora: o The Economist Intelligence Unit descobriu que 90% das organizações mundiais NÃO atingem todos os seus objetivos estratégicos. E os próprios criadores do Balanced Scorecard, Kaplan & Norton, admitem que 73% dos executivos têm desempenho fraco na execução.
Apenas 27% das empresas globais conseguem executar estratégia. O resto? São incompetentes estratégicas. E Portugal não é exceção - somos parte deste fracasso coletivo.
Mas aqui está a oportunidade: as empresas que melhor definirem o seu foco - E usarem a IA de forma inteligente - vão dominar os próximos 10 anos. O problema é que quase ninguém está a fazer nem uma coisa nem outra de forma correta.
Se até o The Economist documenta este fracasso, o problema é sistémico. A Estratégia tornou-se teatro: um festival de folhas de cálculo infinitas, slides coloridos e listas intermináveis de “tudo o que é importante fazer”.
O problema é óbvio: é impossível planear tudo.
As empresas criam documentos estratégicos com centenas de prioridades, dezenas de objetivos e milhares de ações. O resultado? Paralisia total.
Quando tudo é prioridade, nada é prioridade.
A matemática é brutal: se tiver 50 iniciativas estratégicas, vai executar zero. Se definir 20 objetivos, não vai atingir nenhum. Se apresentar 100 páginas de planeamento, ninguém vai ler.
Se apontar 10 prioridades, não tem nenhuma. Se precisar de 3 horas para explicar a sua estratégia, ela não existe.
Aqui está o grande erro português: CEOs e diretores acreditam que quanto mais robusta, com mais folhas e mais ficheiros, mais credível é a estratégia.
É exatamente o contrário!
Quanto mais complexo o plano, menor é a hipótese de execução. Quantas mais páginas, menor a compreensão. Quanto menor a compreensão, zero execução.
A estratégia mais poderosa é a mais simples. A Google tem poucos orientadores por trimestre. A Apple foca-se em poucos produtos. A Amazon define poucas métricas fundamentais.
Eles não fazem isto por acaso - fazem porque simplicidade gera execução.
Aqui está um dos problemas mais devastadores que aprendi com uma das referências da Google em OKR: a falsa sensação de progresso através de atividades cumpridas.
Em Portugal, isto é epidémico: listas intermináveis de tarefas, cobrança sobre atividades executadas, checkmarks que geram sensação de dever cumprido.
O problema? Não é o número de atividades executadas que importa - são as atividades certas que impactam os resultados.
Pode fazer 50 atividades por semana e não mover o ponteiro. Ou pode fazer 3 atividades certas e transformar o negócio.
A questão não é a quantidade - é o impacto. Executar atividades que mexam no número que precisa e não atividades que alimentem a ilusão de produtividade.
Segundo ponto polémico: quando uma empresa tem excesso de reuniões, isso é prova de direcionamento fraco.
Se tiverem, um alvo claro - principalmente usando um OKR bem implementado - as pessoas sabem exatamente o que fazer. Precisam de menos reuniões, não mais.
A lógica é simples:
O excesso de reuniões vem de planeamentos demasiado complexos e número exagerado de prioridades. Quando ninguém sabe o que realmente importa, toda a gente precisa de se reunir para descobrir.
As empresas eficazes fazem o contrário: reuniões rápidas para solicitar ajuda específica, combinar execução pontual, resolver bloqueios. Não para fazer reuniões que geram outras reuniões.
Terceiro ponto polémico: programas de performance são importantes - mas sozinhos são menos do que poderiam ser.
Performance é como o painel do carro: é essencial para saber se está tudo bem e dar um ritmo para andar, mas não serve para acelerar.
O problema acontece quando os programas de performance não estão alinhados com o OKR. Aí torna-se um cão a correr atrás da própria cauda: A cada semana o foco muda para acertar o número que está mal.
As pessoas usam memória de curto prazo: repetem o que deu certo na semana passada. O resultado é que se focam no nível superficial: correm atrás do sintoma, não da causa. A consequência é que a evolução não se nota e mantêm a equipa no mesmo patamar.
Performance sozinha = manter o nível atual;
Performance + OKR = elevar para o próximo patamar.
Quando se tem o OKR junto ao processo de análise de performance, ganha-se impulso pare evoluir para algo estrutural. O OKR tem ciclos de três meses, nesse tempo as pessoas selecionam aquilo que mais precisam para evoluir. Usam a performance como controlo, não como direcionamento. Provocam o salto na equipa, não apenas manutenção.
A diferença é brutal: a performance mantém-os vivos e a caminhar, o OKR impulsiona-os.
Aqui está outro problema devastador: quase todo o CEO e diretor afirma que usa a IA. Porém menos de 5% realmente a usa com qualidade.
A realidade é constrangedora:
O resultado? Respostas inadequadas que não agregam valor estratégico.
Enquanto a maioria usa IA para brincar, as empresas inteligentes estão a usar IA para ter visão estratégica superior:
A diferença é gritante: quem usa IA a sério tem vantagem competitiva brutal. Quem finge que a usa fica para trás.
O OKR resolve o problema fundamental: é uma ferramenta de foco, não de performance.
O OKR existe para dizer “NÃO”. Para matar oportunidades. Para forçar escolhas difíceis. Para garantir que o mais importante seja feito, não tudo.
Mas aqui está o problema: Portugal é um dos piores países em implementação de OKR.
Em Portugal, o OKR tornou-se uma “forma especial de escrever performance”. As empresas pegam nas suas 50 metas tradicionais e reescrevem no formato “Objetivo + Key Results”.
Isto não é OKR. É maquilhar o porco.
OKR não é ferramenta de performance - é ferramenta de eliminação. É para cortar 90% das possibilidades e focar nos 10% que realmente movem o ponteiro.
As grandes multinacionais fazem isto: escolhem poucas apostas e executam com excelência. As empresas portuguesas fazem o contrário: tentam fazer tudo e executam nada.
Outro erro fatal nos planeamentos atuais: a obsessão com o número a atingir e foco zero na alavanca que gera esse número.
Exemplo prático:
Planeamento tradicional: “Aumentar receita em 30%”.
OKR bem feito: “Duplicar taxa de conversão do funil de vendas”.
A diferença? O primeiro é um desejo. O segundo é uma alavanca específica que, se movida, gera o resultado.
OKR ataca exatamente isto: identifica as poucas alavancas que, se movidas, geram o máximo impacto. Não é sobre ter mais metas - é sobre ter as metas certas.
A conclusão é inevitável: as empresas que vão dominar os próximos anos são aquelas que combinam:
Portugal tem mercado, talento e oportunidades infinitas. O que nos mata é falta de foco estratégico, uso superficial da IA e confundir performance com evolução.
Pare de criar listas intermináveis de atividades. Pare de marcar reuniões para descobrir o que fazer. Pare de fingir que usa a IA. Pare de correr atrás de números, sem evoluir capacidades.
Comece a fazer estratégia a sério: foco como Laser + IA inteligente + performance como Controlo.
Porque no final das contas, o The Economist já provou: apenas 10% das empresas executam estratégia. A diferença entre elas e os outros 90%?
A pergunta final de tirar o sono: A sua equipa está a correr atrás de 50 metas inúteis enquanto finge que usa a IA no ChatGPT? A sério: está a construir uma empresa ou um teatro corporativo caro?